terça-feira, 6 de novembro de 2018

Espiral

Tem um arrepio que corre.
Tem um arrepio que... Corrói.
Constrói em mim essa dependência.
Quase como um contrato,
que é selado com o o teu toque.

É profano esse laço?
Porque,
esse teu traço delicado
esculpe em mim tantas preces!
Súplicas pela minha entrega,
Como um pecado,
maquiado,
com doces sussurros...

Enlaça meu ser.
Me... convence.

E parece que foram apenas os teus termos
acordados nessa troca.
É por isso que sinto essa sensação criminosa?



terça-feira, 23 de outubro de 2018

Perene ao Momento

Deixar secar a madeira
pra faísca ter propósito.
Mas e se vem a chuva de novo
molhar minhas tímidas certezas?

Já queima em mim a fadiga, amiga
da culpa mal digerida
por ter deixado
passar

Deixar passar as certezas,
pro propósito ser faísca,
em meio a chuva da minha
indigestão?

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Ilusão

Às margens de mim pairou um silêncio.
Contabilizo nele espaços entre ponteiros;
Tento, repenso... Faço do tempo
um tempo de buscar ser.

Ser o que esqueci:
essência de mim.

Se não é o barulho que me inunda,
nem ruídos, nem gritos;
me torno pausa.

A sensação de eco era como tocar na água,
sentindo tudo que ela é capaz de tocar em mim.

Sonoridade beijando minha pele,
a maciez do limo entre rochas,
plenos de sutilidade tão breves..
Mantinham a cor de cada passo.

Eu que me afogo em silêncios,
logo Eu,
peixe de tantos mares,
fico aflita de sentir a prisão da eterna sensação
de afogar-me em mim?

Se o que me mantém na beira
é a cegueira que construí
destituí de mim o tom
que inicia toda a sinfonia.

Agonia (melancolia fictícia sustentando os demônios que corroem o meu Ser)

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Semear

Descobrir e viver as verdades da vida... Tenho precisado muito disso. Não tenho conseguido caminhar muito bem meus próprios caminhos, sei lá. Me sinto tropeçando... Toda hora, e nas mesmas coisas.

E não tenho conseguido me expressar muito bem também. É como se o fluxo de consciência - imaginação, espontaneidade - tenha sido asfixiado de alguma forma. Me pergunto que parcela de culpa que tenho, e a parcela de influência externa nisso. E não sei dizer

Bachelard me tocou quando disse que "ninguém sabe que lendo revivemos nossas tentações de ser poeta. Todo leitor, um pouco apaixonado pela leitura, alimenta e recalca, pela leitura, um desejo de ser escritor. Quando a página lida é bela demais, a modéstia recalca esse desejo. Mas o desejo renasce."

Aí está um prognóstico favorável: o retorno à leitura pode ser ponte para aquilo que está perdido em mim. Lembro que em meses mais criativos (e intuitivos) meus dias eram recheados de densas literaturas. Preciso movimentar meu ser! Novas leituras, novas músicas, novos momentos.

Procuro nos cofres que me cercam brutalmente
Pondo em pânico os sentidos e desordem
Em caixas profundas, profundas
Como se não fossem mais deste mundo.
[Jules Supervielle]

Ao som de Odeon, do Narazeth.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Hiato

As linhas de raciocínio não têm desembocado para uma foz comum.

Os pequenos detalhes do cotidiano não têm ecoado no meu ser.

Não tenho rabiscado folhas com pedaços de ideias, não tenho revivido sentimentos de euforia que parecem abrir caminhos dentro de mim.

O tempo parece estagnado.

As palavras parecem distantes daquilo que quero transmitir, não mais tem perpassado por meus dedos notas que exprimem o que pulsa aqui dentro...

Às vezes tenho dormido mais do que queria. Às vezes me deparo com a dúvida da existência (aquela "o que quero fazer agora?"), e não mais tenho a desculpa de "não ter tido tempo".

Agora ~ tempo ~ é o que mais tenho.

As músicas que tem perpassado as últimas semanas:

Paulinho da Viola - Dança da Solidão
Ellioth Smith - Between the Bars
Johnny Cash - Hurt
The Ink Spots - I Don't Want to Set the World on Fire

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Grito de Paz

Tenho sentido que me apaixonei demais pela primavera. O toque novo, de sensações que só ressurgem na época de florescimento.. Um florescimento específico. Aquele da primavera. Mas há tanto que nasce no outono! Assim como há tanto que morre na primavera... Ah!

O paradoxo da paixão (que tem me deixado atônita) é que ela deixa a percepção turva. Acabo não vivendo o outono por ter saudade da primavera. E que coisa, né? O outono tá aqui já. Não posso voltar pra primavera, no seu próprio tempo ela vai voltar. Será que eu me adapto? Será que consigo transformar a minha forma de sentir a nova estação?

Ah..


quarta-feira, 4 de abril de 2018

Lembranças: Saudade


Me sinto em vários pedacinhos. Não é como se fossem separáveis, mas sei que são diferentes. E não é como se eu pudesse ter só alguns ou só outros. São todos ao mesmo tempo, num tom usual que chamo de “eu”. Tem um pedaço que adoraria um vinho agora. Tem outro que não para de vibrar toda vez que me lembro da intenção de desenhar. E tem alguns que faltam.

Tenho lembranças das reações deles. Conheço os padrões. Mas minhas ideias são tão... Previsíveis! Queria ter a sensação espontânea que aquela parte me dá. A relação estreita com as situações reais; o toque, a fala, a simples troca de sorrisos. São pedacinhos que, se eu tento colocar outras coisas, não encaixa. É dissonante. Não consigo criar ou transformar eles com a onipotência que tenho em relação à tantos outros pedaços tão meus.

Mesmo não tendo nada pra preencher, o vazio não perde a expectativa. Eu sei que tem o encaixe perfeito: e eu sei que logo mais ele virá. Ele estará. Mas mesmo com essa certeza (as vezes um tanto quanto incerta), aquele desgosto, aquela melancolia... Não adianta. Não consigo fazer sumir. Não dá.

domingo, 18 de março de 2018

Arte de Encontro

Quantas vezes já me debrucei aqui
Querendo... te encontrar

Um suspiro
Que traz consigo
Um antigo amigo
Que a sombra da insônia
Já me fazia 
reencontrar?

Ele tem aquele toque sutil
De espantosa reciprocidade
Que docilmente torna  banal
As angústias que carrego
Ainda
Comigo

Perpassa todo o trabalho que tenho
Nesse inventário abstrato da aparência
Para tolher quaisquer vontades (possibilidades?)
Que destoem
Daquilo tudo que com ele...
Queria ser.

Finjo em entrelinhas mentiras indigestas
Numa busca bizarra que tenho tido pra sofrer menos
Sofrer do que? Qual dor me atormenta?
Se não a solidão de compreender o que os fatos
de fato o são... irreais?
Incompletos... Ah!

Ele olha no fundo de mim
E vê mais do que permito
Mal sabe ele assim como está em mim
Eu estou
nele

E agora?

Me mantenho aqui, enquanto for preciso.
Agora que consigo lidar com aqueles labirintos,
Agora que tangenciar partes de mim não me trazem pavor -
nem dor, nem tristeza -
Aguardo que ele tome decisões
Enquanto as minhas já foram tomadas
Ah!
Parece que faz tanto...
Tempo.
 
Mas não.
 
Tudo breve.
 
Momentâneo. 
 
Só um suspiro, afinal

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Apenas mova sua mão e vá com o fluxo

Querida Luz do Sol

A forma que você brilha através das minhas cortinas pela manhã
Me faz sentir como se você estivesse com saudades de mim.
Beijando minha testa para me ajudar a levantar da cama.
Fazendo eu esfregar o sono dos meus olhos.

Vocês esta me pedindo para sair e brincar?
Esta confiando em mim para desejar que um dia chuvoso não venha?
Olho para cima. O céu é azul.
É um segredo, mas confio em você também.

Se não fosse por você, eu poderia dormir pra sempre.
Mas não estou com raiva.

Eu quero café da manhã.

-

Essa é a primeira vez que publico aqui um texto que não é de minha autoria. Um poema. Um poema inteiro. Ele é da Sayori, personagem do Doki Doki Literature Club.

É.

Tenho tido vários sintomas que são diagnósticos de depressão (assim como essa personagem que escreveu aquele poema ali).

Por mais que tente ignorar esse fato, ele tende à ciclicamente me perseguir. A pergunta que fica nas encruzilhadas que os embrólios mentais me levam é: "Como lidar?"

Então..

Tenho feito uso de, como já citei noutros textos, variadas estratégias. As vezes me são suficientes, as vezes não. Fazia tempo que não me expressava em palavras escritas. E, ah... Não sei.

Tenho ficado perdida em relação aos ritmos do que é externo à mim. A faculdade, os grupos de amigos, as demandas sociais da família. Porém comigo - no meu quarto, na minha casinha - me sinto tranquila. Consigo manter as coisas na ordem que me é confortável, e tenho conseguido aproveitar a solidão também.

E as demandas começam a me perseguir!

Entre fugas e enfrentamentos, o tempo acaba se metamorfosiando em diferentes temporalidades. E, aggh! É difícil se adaptar. É difícil me adaptar.

Como disse em uma conversa cotidiana hoje, me sinto numa condição auto-imune. Uma condição auto-imune na sociedade pós midiática industrialis (hehe), mais conhecida como "Esclerose Anarco-Poética".

Aqui me encontro. Essa temporalidade estranha, externa à mim, da qual as vezes me torno refém. Meu sistema imunológico tenta processar tudo, até que, enfim, chega àquele vazio que tantas vezes já falei sobre aqui nesse espaço virtual.

E, me desencontrando cotidianamente, descubro na poesia a força para zelar pelos ideais que acabo por me apaixonar.

É um segredo (que as vezes até tento esconder de mim mesma), mas confio em você. Quero que a saudade de minha pessoa seja sentida, quero ver no olho de quem estou apaixonada a paixão que permeia meus dias.

* E quando não consigo perceber essa reciprocidade, a dor.. Ah! A dor.. Ela me consome.

Em agosto do ano passado, eu postei aqui o texto da entrevista com o Beethoven. E ele ainda vibra em mim (como todos os textos que já postei aqui). Eu to falando disso:

Eu disse:
"por que eu quero tanto que haja reciprocidade
... quero tanto não estar sozinha,
mas estou"

Projeto nos outros a necessidade que tenho de fuga de mim mesma.

Agora os objetos dessa projeção já são outros.

Vínculos de confiança, seja na amizade ou nos prazeres carnais compartilhados, que se transformaram e mudaram junto comigo.

Agora tô naquelas de me acostumar às novas condições, fazer novos planos e me contentar com aquilo que conseguir. Ah!

Só espero que minha condição psicológica/emocional auto-imune saiba o limite de quais partículas atacar (esse serzinho tem muito o que aprender ainda - antes de propagar sua auto-destruição).